WHEN TEMPERANCE IS WORSE THAN THE DEVIL

Unless you find something to obsess about grand style, it’s not sure that anyone will take you seriously. Today we won’t talk about the obsession with lost lovers, resentment and hatred, and other…

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Conversa

No mais curto e grosso, esse era o último dos meus dias. Era algum domingo de Setembro. Irônico. Calcei o mais belo dos meus sapatos, e com uma roupa qualquer parti do apartamento.

Por que dava tanta importância à apresentação dos meus pés, do calçar ao andar, mas pouco movimento pelo visual dos meus farrapos? Sei lá dizer, sei nem por que estou narrando tudo isso com um palavreado desses.

Ou melhor, pra quem diabos estaria narrando tudo isso? Dentro de mim só eu mesmo posso me escutar, e nem isso consegui nesses 30 anos de vida. Foi isso que minha vida foi, lições auto aplicadas mas nunca aprendidas. Talvez essa narração seja minha última tentativa de explicar-me a mim próprio sobre os molejos do viver?

O motivo pouco importa agora, já que estou na escadaria para o metrô. Alguns passos da minha decisão final. Um homem fino e bem vestido saia às pressas escadaria acima, como se tivesse correndo para não perder negócio. Quem trabalha em pleno domingo a tarde? Vestia um sobretudo marrom, parecido com veludo, camisa branca com uma gravata preta comum, calça social preta e um sapato marrom escuro. Parecia alguém muito importante pra alguma coisa.

De riquezas ditas, não só do dinheiro se via desigualdade. Era notável o abismo de importância à existência entre eu e aquele homem. Alguém bem sucedido, com dinheiro, e que com certeza faria muita falta a diversos corações se simplesmente deixasse de viver. Digo, a vida por si talvez dependa do que aquele homem representa para ser o que é.

O homem sumiu entre os raios laranjas do sol que entravam pelo arco da escadaria, então resolvi continuar minha descida.

Assim como esperado, a estação estava completamente vazia, nem uma alma sequer para preocupar, atrasar ou traumatizar. Tudo aconteceria no silêncio do nada e as únicas testemunhas seriam eu e talvez o maquinista.

Os metrôs passam de cinco em cinco minutos por aqui. Considerando que aquele homem apressado havia acabado de sair de um deles, tenho quatro minutos para, sei lá, existir? Talvez esse ponto seja o mais alto da minha vida. Existir. Não cheguei a conquistar algo muito além disso.

Esperar seria a opção mais confiável. Me aproximei da linha de segurança e esperei.

– Talvez você queira esperar só mais um pouco, além do que está afim de esperar. – uma voz masculina soltou atrás de mim.

Era aquele homem. Não entendi muito bem o que tinha dito e só me virei para vê-lo.

– Pelo trem. Acho melhor esperar mais um pouco. Temos um assunto para resolver.

Temos? Qual assunto seria que alguém como eu poderia ter com ele? Não só pelo fato de eu nem sequer saber quem ele é, mas por isso implicar que eu, no meu fim, teria assuntos não resolvidos deixados para trás. – Poderia me clarificar, por favor, que assunto seria esse?

– Você, e o que acha que está prestes a fazer.

– Como pode saber o que pretendo fazer se nem mesmo me conhece?

– Pois simplesmente sei.

– Não espero palavras de conforto, muito menos pretendo querer mudar de ideia.

– Pode ter certeza que não pretendo te fazer desistir, até porque não há mais como. Precisamos conversar um pouco, e é isso que importa.

– E o que seria especificamente?

– Como disse, sobre você. Temos muitas coisas para esclarecer, nenhuma vida realmente consegue ir embora sem antes alcançar o entendimento interno.

– Cara, quem é você? E porque eu importaria pra você?

– Todos somos importantes para todos, mesmo que nem nos conheçamos. Tua importância individual para cada um é um detalhe. Se importa-se consigo mesmo, importo-me contigo.

– Não importo-me comigo, e não deveria se importar também. Nunca estive aqui por fazer diferença e nunca poderei fazer. Existo por existir e não quero mais.

– Então é esse seu motivo de quebrar a própria relevância e deixar de ser? Acredita que nunca pôde fazer a diferença, e que nunca encontrou-se com seu significado?

– De certa forma sim. Não tenho motivos para existir e sei que não deveria. Não mudei nada, não contribui para nada. Um fracasso em vida e um fracasso à morte.

– Existir é a maior das dádivas que chegamos a ter. Não chegamos à vida sabendo um motivo superior. O recém-nascido não grita seus choros aclamando pelo significado divino, justamente por não ter. Mas isso não quer dizer que existimos por existir. Em verdade, existimos para existir. Não temos um significado maior, mas somos o nosso próprio significado maior. Tudo o que fazemos e deixamos se torna parte do que somos, e isso é seu significado em si. Você é o que é pelo simples fato de ser. Sua maior conquista, não importa quem tenha sido, é ser.

– Mas nunca quis ser por mim mesmo. Sonhei em todos os momentos ser para os outros. Inspirar, importar e influenciar. Queria poder fazer dos outros melhor, e não somente existir.

– Quando digo-lhe que existir é a maior das nossas dádivas, significo que por existir, somos a diferença. Todos são criadores, cada um dos indivíduos, no mais fundo dos significados da palavra. Criadores de momentos, sentimentos, memórias, emoções. Por existir, você desperta todos os tipos de manifestações no mundo. As pessoas com quem interagiu, aqueles a quem amou, a todos. Somos porque existimos, e nada mais. E mesmo que cheguemos a deixar de viver, não deixaremos de ser e muito menos existir.

Existiremos nas lembranças de infância daqueles que pudemos ser amigos, nas memórias de bons momentos dos que pudemos ser íntimos, e até mesmo nas memórias daqueles que nem sabíamos ter influenciado. Pegue meu rosto como exemplo. Como pode lembrar das feições dessa face se nunca o viste ou gozou de uma boa memória com ele? Além disso, existimos nas marcas físicas que deixamos. Não temos importância na existência, mas somos a importância da existência.

– Ainda assim, sinto que o mundo seria melhor se eu nunca tivesse existido.

– O mundo não seria o mundo se você nunca houvesse existido. Como pode me garantir que o mundo existe além de você? Como pode se preocupar com o bem maior de algo que só existe para ti através dos seus próprios mecanismos sensoriais? Como pode pensar que o mundo que vê com seus olhos seria melhor sem ti, se ele nem sequer existiria se não pudesse vê-lo? A sua maior importância é para ti. Não importa como seu fim será, sua jornada foi cheia de experiências e momentos, em cada lugar que passou, ou pele que sentiu, deixou sua própria marca. Não só no mundo lá fora, mas também no mundo dentro de ti.

Todas aquelas palavras entraram tão fundas no meu corpo que sentia-as como estacas de metal puro e gelado em meu peito. A voz daquele homem entrava tão fundo em minha cabeça que sentia conversando comigo mesmo.

O homem se aproximou, parou perto da faixa de segurança e, com as mãos no bolso, admirou a sujeira oleosa dos trilhos.

– Acredito que nossa conversa acaba aqui. Sinto que estamos prontos para o próximo passo e que tudo se resolverá. Suas últimas sinapses finalmente estão falhando e logo tudo acabará. O que foi decidido não há como desfazer, mas o fim não precisa doer.

Completamente paralisado do choque de tudo o que ouvi, só consegui soltar uma última pergunta.

– Quem é você, afinal?

– Você. O último recurso da sua própria mente para ir embora sem dor, tanto física quanto emocional. Não sei dizer o que já aconteceu, mas o que planejava fazer, já fez. Este rosto foi o último que viu, por isso pareço com ele. Foi um prazer existir e viver tudo o que você viveu, agora é hora de ir embora.

O homem apontou para o túnel dos trilhos, indicando a vinda de um trem. Instintivamente segui com os olhos onde apontava, e de longe ouvia os barulhos do metrô. Ao olhar de volta para a estação o homem já havia desaparecido.

Assim que o trem parou, entrei em um vagão totalmente vazio e esperei. Continuei viagem e parti.

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